1.5.17

Memória de Plasencia

Habito uma cidade de memória.
Obriga-me a isso
a pobre realidade que determina
a imagem que reflete.
Não me motiva o anelo
proclive à nostalgia.
Reduz-se a minha ânsia a contemplá-la
no raro desvio dos sonhos.
Caminho pelas suas ruas
a sentir-me um estranho que regressa.
Alguns edifícios recordam-me
que aquilo sucedeu.
As ruínas de outros antes erguidos
confirmam a existência do achado.
Passeio e para lá dos muros late o canto
de um tempo enclausurado.
Descubro nos jardins as palmeiras
que dentro convidam à visita,
e posso fazê-lo só porque são
apenas um solar à intempérie.
No seu lugar haverão de construir-se
casas já sem memória.
Nos arredores,
uma ilha recortada dá ao esquecimento
as doces alamedas da infância.
Não podem os nossos corpos alagar-se
nas suas tíbias margens lamacentas,
as noites de Verão.
As suas ribeiras dão forma a umas memórias
seguramente falsas.
Os pavilhões vermelhos derruídos
foram um dia
o limite do mundo.

Traducción del eborense Luis Leal